se ainda não viu

2016 
último trimestre do ano: quinzenalmente | sábado | 17h | IPDJ
Entradas: 1 CCF / 1,50 SPZS/FENPROF / 1,50 REDE JCE /3 estudantes / 4 restante público
Org: Cineclube de Faro / SPZS/FENPROF

distribuição gratuita de DOSSIÊ DO FILME
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 10 DEZ


 FICHA TÉCNICA


TÍTULO ORIGINAL | Queen and Country

REALIZAÇÃO e ARGUMENTO | John Boorman

ELENCO | Callum Turner, Caleb Landry Jones, Pat Shortt

MONTAGEM | Ron Davis

FOTOGRAFIA | Seamus Deasy

MÚSICA | Stephen McKeon          
PAÍSES | Irlanda, França, Roménia
ANO | 2014
DURAÇÃO | 115’
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA | M/12

FESTIVAIS E PRÉMIOS

 2015   
California Independent Film Festival 
Irish Film and Television Awards 

 2014
Quinzena dos Realizadores – Selecção Oficial
  Lisbon & Estoril Film Festival - Selecção Oficial


 SINOPSE

1943. Bill Rohan tem 9 anos e está extasiado por a escola ter sido destruída por uma bomba Luftwaffe extraviada, mas triste com a partida da irmã mais velha, grávida de um soldado canadiano e prestes a emigrar para o novo mundo.
1952. Bill Rohan tem 18 anos e sonha, em casa da família à beira rio, com uma vida no estrangeiro, à espera de ser chamado para dois anos de serviço militar obrigatório no Exército. Nada todas as manhãs e pensa na linda rapariga que, todos os dias à mesma hora, atravessa de bicicleta a ponte pedonal sobre o rio. Este idílio é estilhaçado pela
dura realidade da recruta. É aí que conhece Percy, um brincalhão amoral, com quem planeia destruir o Sargento Major Bradley, o rígido carrasco de ambos. Percy e Bill são rivais e adversários, mas os laços do treino militar ajudam-nos a construir uma amizade e confiança profundas.





26 NOV  

FICHA TÉCNICA

REALIZAÇÃO, ARGUMENTO e DIÁLOGOS | Xavier Giannoli
PAÍSES | França, República Checa, Bélgica
ANO | 2015
DURAÇÃO | 127’
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA | M/12

FESTIVAIS E PRÉMIOS

2016
César - 4 prémios e 7 nomeações
2015
Festival de Veneza - Competição Oficial
Festa do Cinema Francês - Filme de Encerramento

SINOPSE 

Paris, anos 20. Marguerite Dumont, mulher rica, amante de música e de ópera. Desde sempre canta regularmente para os seus amigos. Porém, canta de forma cada vez mais desafinada e ninguém ousa dizer-lhe a verdade. O seu marido, assim como as pessoas mais próximas, sempre lhe alimentaram as ilusões. Tudo se complica no dia em que Marguerite decide cantar frente a um público verdadeiro na Ópera...

 TRAILER |        IMDb |    DOSSIER DE PRESSE |    EVENTO



A DIVA DESAFINADA

No fim de uma festa de recolha de fundos para os veteranos da guerra, depois de uma série de árias por vozes seguras e, apresentada entre um rol de elogios por uma senhora de roupas, gestos e palavras chiques, a responsável pelo evento (ou seja, a que abriu os cordões à rica bolsa para a caridade cara ali acontecesse naquela tarde) entra em cena para cantar. Mas não há uma frase que não saia desafinada, a sua voz revelando uma total ausência de capacidade para o canto, o ouvindo não dando conta do que se passa, a ilusão de que tudo correra magnificamente, uma vez mais, àquela diva que cantava habitualmente entre amigos, sendo uma vez mais renovada pelos aplausos gerais da sala (numa ao lado, houve quem se refugiasse, porta fechada, para não ter de a voltar a ouvir). É assim, deixando logo evidente que não se trata de uma comédia sobre uma cantora desafinada (muito desafinada), mas antes do retrato do desencanto quase solitário de uma mulher que sonha pela música as ligações a uma vida sem dramas na conta bancária mas, de resto, em tudo vazia. Um retrato ao qual o realizador Xavier Gianolli não deixa de chamar a relevante presença dos que a rodeiam, já que são eles, mais do que ela, a verdadeira fonte do equívoco que é o seu canto.



Margerite começou a nascer quando o realizador descobriu a figura de Florence Foster Jenkins, uma socialite norte-americana hoje lembrada pela sua atroz incapacidade em cantar, todavia fixada numa ilusão de ser uma diva da música numa carreira que ela mesma financiou nos dias da Belle Epoque, e cuja vida Stephen Frears levará brevemente ao cinema, num filme com Meryl Streep à frente do elenco. Tal como Florence Foster Jenkins ou até mesmo, com as devidas diferenças, a portuguesa Natália de Andrade, Margerite vive o sonho de um canto que não domina. Pelo menos segundo as normas já que um poeta dadaísta nela encontra, entusiasmado, um tom verdadeiro e subversivo que chega mesmo a levar a uma performance na qual a convida a cantar uma Marselhesa (desafinada, claro) sob projeções de imagens de guerra. Uma performance artisticamente consequente para os padrões do seu curador. Mas que, entre o círculo de “amigos”, os mesmos que até aí a aplaudiam, gera desconforto. Ou seja, lá cantar mal a malta tolera, até porque os croquetes são bons e o champanhe, que é caro, também… Mas isto de fazer cenas de rebeldia para além do que e elite tolera é que desafina a coisa.



E é aí, ao desviar claramente o filme do que poderia ser ou uma caricatura de um talento inexistente ou o mero drama de uma vida toldada por ilusão criada ao seu redor, que Xavier Giannoli começa a juntar ingredientes narrativos que acrescentam maior profundidade de campo à vida que se desenrola frente aos nossos olhos. A ousadia do ativista, a reação intolerante da elite e o questionar do papel do crítico (na forma de um jovem que aceita entrar no jogo, aprofundando a ilusão da protagonista) enchem de vida e sentido um filme que trabalha igualmente bem as personagens, seja o marido que está farto de ouvir “zurrar” a mulher e procura fuga extraconjugal, um empregado dedicado (tanto até, que não esconde uma secreta paixão pela patroa), uma jovem cantora vocalmente talentosa mas decidida a aliar-se aos novos (mas menos famosos) compositores ou um cantor em curva descendente que veste a farda do círculo que mantém firme a ilusão perante um desafio que tudo pode fazer desmoronar: um concerto público.



Uma segura (e clássica) art direction, que serve a inscrição da narrativa e personagens algures em França, nos tempos que se seguiram à I Guerra Mundial, uma arrumação clara da narrativa – que é inclusivamente dividida em capítulos – e uma dose suave de momentos de canto ajudam a fazer de Marguerite uma das boas surpresas deste trimestre final de 2015.
Nuno Galopim, Máquina de Escrever





12 NOV

FICHA TÉCNICA 

REALIZAÇÃOJessica Hausner
ELENCO | 
Christian Friedel, Birte Schnoeink e Stephan Grossmann 
PAÍSES | Áustria/Luxembugo/ Alemanha
ANO | 2014
DURAÇÃO | 96'


FESTIVAIS E PRÉMIOS

Festival de Cannes | Prémio Un Certain Regard 
Festival de Toronto | Selecção Oficial
Lisboa & Estoril Film Festival | Prémio Melhor Filme


SINOPSE

Berlim, período Romântico. O jovem poeta Heinrich quer conquistar a inevitabilidade da morte através do amor, mas não consegue convencer Marie, a prima céptica, a juntar-se ao pacto de suicídio.

TRAILER
| IMDB


CRÍTICA

A autora austríaca Jessica Hausner explora a irracionalidade da morte enquanto prova de amor eterno em AMOR LOUCO, que descreve as últimas semanas do escritor alemão romântico Heinrich von Kleist, que, aos 34 anos, cometeu duplo suicídio com Henriette Vogel, uma mulher casada e presumível doente terminal.
O mais recente filme de Hausner volta a mostrar-se no festival de Cannes, onde as suas primeiras longas, LOVELY RITA e HOTEL, também estrearam, embora AMOR LOUCO se aproxime mais do filme anterior, LOURDES, título em competição na edição de 2009 do festival de Veneza, que tinha uma complexidade semelhante e um tom intencionalmente opaco, permitindo aos espectadores conferir a sua própria subjectividade ao material e assim alargar de forma ampla as possíveis respostas à obra.
Neste, alguns espectadores ficarão encantados com o ideal Romântico – embora não com os aspecto práticos – de morrer com o ser amado, enquanto outros questionarão a razoabilidade do suicídio em geral, embora o filme se esforce por mostrar como as vidas da burguesia de Berlim eram, de facto, muito menos empolgantes que a perspectiva de morrer com o amor da nossa... bem, vida. (...)
AMOR LOUCO passa-se há dois séculos, em 1811, o ano em que Heinrich von Kleist (Christian Friedel) haveria primeiro de disparar sobre Henriette Vogel (Birte Schnoeink) e depois sobre si próprio. Mas Hausner, que também escreveu o argumento, não põe a carroça à frente dos bois e deixa simplesmente que o filme se desenrole cronologicamente. Von Kleist começa por ser visto a frequentar serões em casa de famílias abastadas, onde, entre recitais para piano e voz, conversa com Henriette e com, Marie (Sandra Hueller), sua prima e primeiro amor, na esperança de encontrar uma mulher da alta sociedade disposta a amá-lo de tal forma que esteja preparada para morrer com ele.
Embora a alma dele esteja “doente de solidão,” Marie acaba por recusar a proposta imensamente romântica, mas também bastante descabida, de Heinrich - “Vá lá, agora já está a exagerar,” diz, trocista – e Marie também não parece muito segura no início, porque é casada com Herr Vogel (Stephan Grossmann) e têm uma menina. Mas é claro desde o primeiro encontro que ela fica fascinada com o poeta, que a impressiona quando, numa questão de segundos, desmascara os verdadeiros sentimento que ela julgava ter muito bem escondidos por debaixo de uma fachada cuidadosamente erigida imposta pelas convenções sociais.
Esta relação invulgar desenvolve-se contra o pano de fundo de um país em mudança, uma vez que os impostos começam a ser aplicados a todos, incluindo - espanto! - à aristocracia, que considera esta “moda francesa” completamente absurda e que não consegue imaginar que os camponeses prefiram pagar impostos e ser livres do que continuar a servi-los. Se conversas intermináveis acerca deste tema podem parecer uma proposta aborrecida para um filme, têm, contudo, êxito inequívoco em dois aspectos: ancorar mais firmemente a história numa estrutura temporal específica e, por serem tão entediantes, mostram porque uma alma sensível como Heinrich se sentia tão pouco talhado para a vida da alta sociedade burguesa.
Hausner aumenta a complexidade emocional na segunda parte do filme – que, supostamente, se desvia mais dos registos históricos – com a revelação de que Henriette sofre de uma doença que, ocasionalmente, a faz desmaiar. Do que sofre exactamente, é um mistério, embora os médicos acabem por concluir que estará, de algum modo, associado a um tumor fatal, e que influenciará directamente a vontade de Henriette embarcar no plano de Von Kleist. Ele, por seu turno, não se deixa entusiasmar por esta súbita mudança de opinião, visto que a jovem e pálida mãe pode estar a fazê-lo pelas razões erradas.
Os ganchos narrativos do argumento de Hausner são incrivelmente bem achados na forma como, por exemplo utiliza o ingénuo Herr Vogel, que tenta ajudar uma cada vez mais desgraçada esposa e que quer fazer o é melhor para ela, e que, a princípio, parece tê-la salvado mas depois, numa reviravolta irónica, acaba por facilitar os planos trágicos dela. Da mesma forma, há uma cena que é escrita e interpretada de forma brilhante, passada na pousada onde Henriette e Heinrich passam a noite e acabam a jantar com um amigo (Peter Jordan) que acha que eles estão lá apenas a ter rambóia extra-conjugal. A maneira como aqui se comporta o indignado von Kleist, calmo e controlado e sem levantar a voz, torna o último desejo e acto de ambos ainda mais sinistro e trágico. De facto, ao longo do filme, os desempenhos têm um tom discreto que ofusca constantemente as emoções, sugerindo que a razão é uma opção em matéria de amor, vida e morte.
Num outro gesto ousado, os momentos finais de Heinrich e Henriette, superiormente encenados e montados, sublinham com rigor o que as duas personagens tentaram evitar ao cometerem suicídio juntos. O que acaba por ser trágico no destino que escolheram não é terem tido êxito em tornarem-se imortais juntos, mas tudo o que levou à morte de ambos ter sido o resultado de actos bastante banais destruídos com uma enorme sensação de solidão.
Visualmente, Hausner e a equipa do costume recriaram minuciosamente os interiores de época, e o impecável director de fotografia (e um dos fundadores da produtora Coop99), Martin Gschlacht, faz enquadramentos rígidos, como se fossem pinturas, resultando daí um classicismo viusal que sugere o ambiente opressivo e limitador de onde as personagens querem tão ardentemente sair. As cenas finais são como uma picada agradável e inesperada e ouve-se uma canção interpretada de forma sinistra acerca de uma “dor profunda”.


Boyd van Hoeij, The Hollywood Reporter



 29 OUT

FICHA TÉCNICA

TÍTULO ORIGINAL | Fehér isten
REALIZAÇÃO | Kornél Mundruczó
ARGUMENTO | Mundruczó Kornél, Petrányi Viktória, Wéber Kata
MONTAGEM | Jancsó Dávid
FOTOGRAFIA | Rév Marcell
MÚSICA | Asher Goldschmidt
PAÍSES | Hungria, Alemanha, Suécia
DURAÇÃO | 121’

FESTIVAIS E PRÉMIOS

2014 
Prémio Un Certain Regard - Festival de Cannes
Palm Dog - Festival de Cannes
Festival Europeu de Cinema Fantástico de Estrasburgo (FEFFS) - Octopus d'Or - melhor longa-metragem fantástica internacional

SINOPSE

Um conto premonitório sobre as relações entre uma espécie superior e o seu inferior caído em desgraça. Banido e traído, “o melhor amigo do homem” revolta-se contra o seu antigo mestre.

 TRAILER | IMDb

CRÍTICA DE CANNES:

A sexta e melhor longa-metragem de Kornél Mundruczó é uma aventura “homem-vs.-cão” emocionalmente excitante e tecnicamente magistral.
As palavras “soltem os cães” ganham um novo e vibrante significado em DEUS BRANCO, uma atualização emocionantemente estranha da fórmula dos filmes de Lassie, onde a viagem incrível de um rafeiro perdido em direção ao santuário evolui para uma revolução homem-contra-animais em larga escala. É a sexta longa-metragem do estilista húngaro Kornél Mundruczó, e a sua melhor até agora; DEUS BRANCO parece começar por ser significativamente diferente do seu trabalho anterior, com uma narrativa de aventuras atraentemente ingénua, até ao momento em que as proporções míticas da história, a par da sua violência visceral, se revelam. (...)Nunca verdadeiramente explicado ao longo do filme, o título DEUS BRANCO pode ser uma referência a Samuel Fuller, cuja alegoria de 1982 sobre as relações entre as raças, “White Dog” (“Cão Branco”), assume uma visão igualmente conflituosa da relação entre o homem e o seu suposto melhor amigo. Todas as personagens humanas no filme de Mundruczó são ou ameaças ou obstáculos ao nosso anti-herói canino, Hagen – um rafeiro robusto, castanho, com uma cauda particularmente empertigada – à exceção de coração puro da sua dona de 13 anos, Lili (a fantástica estreante Zsófia Psótta). A impressionante cena de abertura pré-genérico vê Lili a percorrer de bicicleta as ruas desertas de Budapeste, com um exército em movimento de cães de rua no seu encalce – ela parece-se com um Flautista de Hamelin alternativa, com um trompete metido na mochila. Aparentemente um sonho, a cena assume implicações completamente diferentes mais tarde no filme: a ordem futura das coisas pode depender dos cães estarem a segui-la ou a persegui-la.
Como parábola das indignidades que os superiores humanos causam aos animais, o filme declara as suas intenções à cabeça: a primeira imagem depois do genérico é de uma carcaça de bovino a ser esfolada e estripada num matadouro, com as entranhas a cairem no chão como roupa lavada. O supervisor do processo é o pai de Lili, Dániel (Sándor Zsóter), um divorciado reservado de meia idade que se vê surpreendido quando a ex-mulher lhe deixa a filha, acompanhada pelo fiel Hagen, a seu cargo durante o verão. O seu apartamento de solteiro não está pensado para acolher o cão, cuja presença leva uma vizinha coscuvilheira a chamar as autoridades. O estado acaba de impor uma multa pesada sobre as raças impuras e, pouco disposto a pagá-la, Daniel abandona Hagen numa auto-estrada, perante a compreensível aflição de Lili.
DEUS BRANCO não é apenas uma história de hierarquia inter-espécies; propõe igualmente uma metáfora simples mas elegante de opressão racial e de classes, à medida que as massas párias, postas de lado em favor da elite, se juntam para declarar a sua força coletiva. Deslocando o seu ponto de vista para a perspetiva de Hagen, o filme mostra o cão a aliar-se com os muitos outros rafeiros descartados que percorrem as ruas, alimentando-se de restos e evitando os apanhadores municipais encarregues de recolher os cães perdidos. Na sequência de uma série de tentativas de fuga, Hagen acaba por ser apanhado pelo dono de um restaurante turco que tenta treiná-lo como cão de combate – encorajando os seus instintos de ataque com um regime brutal de treino, a sequência mais difícil de ver para os amantes de animais desde AMOR CÃO.
Essa violência é virada, com amarga ironia, contra os seus perpetradores à medida que uma série de artifícios leva os cães reunidos no canil a juntar forças e revoltar-se contra o homem no que apenas pode ser descrito como um putsch canino. O progresso gradual de Hagen em direção ao motim decorre em paralelo com a mais convencional rebelião adolescente de Lili, que reage precipitadamente ao tratamento injusto dos mais velhos, mas não encontra muitos aliados na sua dissensão. O seu estatuto de lobo solitário não é acidental. À medida que o golpe canino ganha embalo – durante uma série de sequências tensas e extraordinariamente encenadas que recordam o horror sinistro dos PÁSSARO de Hitchcock, amplificado pela esplêndida partitura orquestral de Asher Goldschmidt – a jovem trompetista pode ser a única pessoa capaz de acalmar os animais selvagens. 

Guy Lodge, Variety 

 

15 OUT

FICHA TÉCNICA

REALIZAÇÃO | Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz
ARGUMENTO | Ronit Elkabetz e Shlomi Elkabetz
MONTAGEM | Joëlle Alexis
FOTOGRAFIA | Jeanne Lapoirie
PAÍSES | Israel, França, Alemanha
DURAÇÃO | 115’

SINOPSE

A história da batalha legal de Viviane, que durante cinco anos lutou por obter o seu divórcio junto da única autoridade legal competente para julgar casos de divórcio em Israel, o Tribunal Rabínico. Viviane enfrenta a atitude inflexível do seu marido, que se recusa a dar-lhe o divórcio, apesar de viverem separados já há alguns anos.

FESTIVAIS E PRÉMIOS

2016 
 International Cinephile Society Awards – Melhor Elenco
2015 

 Golden Globes - Nomeação para Melhor Filme de Língua Estrangeira
Palm Springs International Film Festival - Realização
2014 

Festival de Cannes - Quinzena dos Realizadores
Jerusalem Film Festival – Melhor Longa-metragem; Prémio do Público; Melhor Ator
Israeli Film Academy – Prémio Melhor Filme; Prémio Melhor Actor Secundário
Oslo Films from the South Festival – Melhor Argumento
Hamburg Film Festival – Melhor Atriz
San Sebastián International Film Festival – Realização
Chicago International Film Festival – Melhor Argumento
Hamptons International Film Festival, USA – Melhor Argumento; Melhor Atriz
Traverse City Film Festival, USA – Realização
National Board of Review, USA – Top 5 filmes estrangeiros
Asia Pacific Screen Awards – Nomeação para Melhor Actriz

TRAILER | IMDb

CRÍTICA

MARCHA À SUPERFÍCIE DUMA SEPARAÇÃO
O percurso de obstáculos duma mulher israelita para obter o divórcio do marido.
Este é um daqueles filmes que são como um murro no estômago, que deixam, muito depois da primeira imagem, a recordação de um olhar, duma cabeleira, duma atmosfera, duma palavra.
A palavra é «Gett» («divórcio» em Hebraico), que Viviane Amsalem procura obter do seu marido, Elisha, desde há vários anos e que ele continua obstinadamente a recusar dar-lhe, de maxilares tensos e olhar raivoso. A atmosfera é a de uma sala fechada, num tribunal rabínico, em Israel.
É percetível a violência surda, esse sofrimento que deriva muitas vezes da ignorância, do peso absurdo das tradições. Custa a crer que esta cena de outros tempos ocorre nos dias de hoje, num país aparentemente democrático.
E, no entanto, tudo isto é verdade. O casamento civil ainda não existe em Israel, apenas a lei religiosa se aplica e esta lei está do lado do homem.Carrapito. A mulher não tem qualquer influência, ela está condenada ao silêncio e à obediência pela força da lei e dos que a aplicam: os rabinos. Depois de TAKE A WIFE e 7 DAYS, GETT: O PROCESSO DE VIVIANE AMSALEM é o terceiro capítulo duma trilogia realizada pela comediante Ronit Elkabetz e pelo seu irmão Shlomi. Retrato duma mulher, mãe de quatro filhos, que se debate por reconquistar a sua independência num país moderno, aprisionado pela vigência das suas tradições.
Voltamos a encontrar a mesma preocupação de filmar bem de perto as emoções, o não dito. Viviane Amsalem é interpretada por uma formidável Ronit Elkabetz, silenciosa e pálida no seu vestido preto, como viúva da sua própria liberdade, mas também radiante e transbordante de sensualidade quando ri, agarra e desfaz lentamente a sua pesada cabeleira até aqui presa num carrapito. No ecrã, só a vemos a ela, essa massa de cabelo na qual ela se enleia e que deixa plenos de estupefação e perturbação os homens presentes na sala, e de seguida, vemos os rabinos indignados pelo poder erótico desta melena.
Elkabetz amadureceu. O seu jogo, levado ao extremo em 7 DAYS, ornou-se mais denso, mas ao mesmo tempo, mais ligeiro. Ela ocupa a imagem e o espaço, ainda que Simon Abkarian interprete um marido pleno de contradições, carinhoso, apesar de tudo, mas incapaz de compreender que sucumbe sob uma missão duma influência que o ultrapassa, mesmo que estremeçamos de felicidade com cada aparição de Sasson Gabay, o inenarrável herói de UM PORCO EM GAZA e de A VISITA DA BANDA, que faz o papel de um advogado cheio de boas intenções. Instinto. Não diremos nada sobre o final deste filme trágico e por vezes engraçado, chegando a roçar o absurdo, apenas que não podemos em caso algum perder a cena onde Elisha deve pronunciar a frase que, segundo a lei rabínica, permite ao esposo devolver a liberdade à sua mulher: «E eis-te permitida a todos os homens.»
Desespero ou instinto possessivo, não sabemos bem o que permanece nele.
Alexandra Schwartzbrod, Libération