fevereiro 2018


Ciclo do mês

Encantos e desencantos conduzem o ciclo do mês de fevereiro, no Cineclube de Faro.


Começamos pelo amor e os que o procuram incessantemente. Em O Meu Belo Sol Interior, Juliette Binoche veste a pele de uma pintora parisiense, culta e sofisticada, cujo divórcio conduz a aventuras várias com homens muito diferentes – dela e entre si. A indecisão da protagonista Isabelle sobre o que realmente sente em cada um destes encontros pode ser entendida à luz de Fragmentos de um Discurso Amoroso, o ensaio de Roland Barthes sobre os mitos que definem historicamente o amor e o tornam inspiração para a arte. Filosofar em filme a partir de obras escritas é, de resto, uma constante na obra da cineasta francesa Claire Denis – autora de Beau Travail (1999) e 35 Shots of Rum (2008) –, um nome promissor do cinema europeu, dividido entre a marginalidade das bilheteiras e os aplausos da crítica.


Olhares Lugares é o encontro feliz entre o documentário de Agnès Varda e a fotografia de Jean René. Separados por gerações mas unidos na paixão pela imagem e tudo o que lhe diz respeito, a dupla provável de autores decide cruzar experiências nas artes visuais – Agnès é um dos nomes maiores da nouvelle vague francesa, enquanto JR cria instalações ao ar livre e tem milhões de seguidores virtuais no Instangram. O filme acompanha a viagem de ambos pelas obras de cada um, bem como o nascimento de uma bonita amizade.


Pelos olhos de uma criança, Sean Baker conta-nos a estória de The Florida Project. A longa-metragem dramática do realizador de Tangerine (2015) estreou na última edição do Festival de Cannes e garantiu a Willem Dafoe mais de 15 prémios e uma nomeação para Óscar de melhor ator secundário. O filme contém partes gravadas em iPhone e aborda, de forma humanizada, o lado menos turístico de Orlando (Florida), através das peripécias de uma família disfuncional.


Vencedor do prémio de melhor atriz para Diane Kruger, em Cannes, e Globo de Ouro para melhor filme estrangeiro, Uma Mulher Não Chora fala de luto e vingança, em plena Turquia. O realizador Fatih Akin, turco-germânico, evoca a sua dupla identidade nacional num thriller intenso, em que uma mulher alemã se vê obrigada a vingar a morte do marido, turco, assassinado por um grupo de neonazis. 

A emoção das descobertas nucleares em pleno auge soviético – eis Nove Dias de Um Ano. O clássico de Mikhail Romm, mentor de Andrei Tarkovsky e Grigory Chukhray, foi rodado em 1962 e é o próximo título do ciclo Ventos de Leste, dedicado ao centenário da Revolução Russa. Trata-se de um dos mais importantes filmes de regime, considerado (à época) inovador pela cenografia e pelo som.
Um jovem pássaro ensina aos mais novos o verdadeiro significado de família. Richard é um pardal que, por engano, nasce num ninho de cegonhas e é criado por estas. Quando os pais e irmãos percebem que chegou o momento de voar para África, para fugir do frio iminente, o pequeno herói decide contrariar a sua natureza e acompanhá-los na viagem.  O filme de animação de Toby Genkel e Reza Memari é uma co-produção internacional e estreou-se em 2017 no Festival de Berlim.
Aos sábados à tarde, uma vez por mês, o Cineclube de Faro cruza as artes do espectáculo. A escolha de fevereiro é Bruscamente, no Verão Passado – uma adaptação da peça de Tennessee Williams por Joseph L. Mankiewicz, na qual uma viúva rica tenta fazer uma lobotomia à sobrinha, como vingança pela morte do filho amado. O trabalho do realizador não agradou o dramaturgo, mas brindou o público com as interpretações memoráveis de Elizabeth Taylor e Katharine Hepburn nos principais papéis.
O ciclo de cine-concertos nas igrejas do Algarve tem a sua próxima soirée na Igreja de Santiago, em Tavira, com a projecção de O Vento.  Realizado pelo mestre sueco Victor Sjorstorm, em1928, é um dos últimos filmes mudos produzidos pela Metro-Goldwyn-Mayer. Será acompanhado ao piano por Filipe Raposo, quem tem no seu currículo colaborações musicais com Sérgio Godinho, Fausto e Ana Moura.




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