FÉLICITÉ | 7 NOV | 21H30 | IPDJ



FÉLICITÉ
Alain Gomis
LB/FR/BE/SN/DE, 2017, 123’, M/14


FICHA TÉCNICA

Realização e Argumento: Alain Gomis
Montagem: Alain Gomis e  Fabrice Rouaud                
Fotografia: Céline Bozon
Interpretação: Véro Tshanda Beya Mputu, Gaetan Claudia, Papi Mpaka, Nadine Ndebo
Origem: LB/FR/BE/SN/DE
Ano: 2017
Duração: 123’
  


FESTIVAIS E PRÉMIOS

Festival de Cinema de Berlim – Grande Prémio do Júri

 


CRÍTICAS

Mãe solteira, Félicité vive em Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo, e canta em bares para ganhar o pão de cada dia e dar de comer ao filho adolescente. Um dia, o rapaz tem um acidente de moto e fere-se gravemente numa perna. Uma operação no esquálido hospital onde ele está internado custa uma fortuna e tem que ser paga em contado, e por isso Félicité vai varar a cidade para arranjar a soma necessária o mais depressa possível. Nem que isso signifique submeter-se a humilhações várias e até mesmo ser agredida. 
Assinado pelo senegalês Alain Gomis, “Félicité” ganhou o Grande Prémio do Júri do Festival de Berlim, e o seu lado melhor é o documental, mostrando a miséria, a corrupção, a violência e o subdesenvolvimento endémicos de um país cujo regime e cuja situação política e social contradizem a menção à democracia que tem inscrita no nome. [...] o filme, feito com meios limitados, tem uma linearidade despretensiosa, uma lhaneza dramática e sobretudo um valor de documento de actualidade ]...]

Eurico de Barros, Observador
 


Aquilo de que mais gostamos neste novo filme de Alain Gomis — ele que, desde "L' Afrance" e "Andalucia", sempre tratou de procurar uma linha imaginária, polémica (e por isso política), entre Norte e Sul, França e África, seguindo personagens desenraizadas e excluídas — é o modo como a ficção se insinua nos planos sem quase nos darmos conta dela. De facto, não é frequente (e é mesmo raro) que um filme comece por um concerto, o seu palco (um bar dos basfonds de Kinshasa), os seus bastidores (onde os Kasai Allstars afinam os instrumentos), a sua plateia (habitués entusiasmados pelo calor da noite e do álcool), a menos que esse filme seja um documentário musical. Ora, 'documentário' e 'musical' são 'ganchos' que também existem em "Félicité" desde o primeiro instante. Mas o que é estranho nesta apropriação da realidade difícil de sondar é que nem o filme se estabiliza estruturalmente numa só tendência ou género, nem a montagem parece servir os propósitos da narrativa, pois justapõe momentos de realismo e de onirismo, drama e sonho, acaso e fatalidade, sem transição aparente entre estas dimensões que, no fundo, todas reunidas, nos dão um retrato completo de um pedaço do mundo. O corpo da heroína do título, obrigada a encontrar dinheiro depressa para tentar salvar o filho acidentado, pode palmilhar furiosamente Kinshasa ao mesmo tempo que o seu espírito (ou a projeção do seu desejo) vagueiam à noite na floresta, à beira de um rio. Tabu, aquele homem embriagado que ama Félicité, pode contrapor ao desespero desta momentos de comédia no conserto de um frigorífico, ou ser mais tarde porta de esperança para aquilo que só na tragédia parecia poder ficar. A beleza deste filme, convenhamos, irregular, vem precisamente deste aspecto aleatório de registos que Gomis põe em prática, a dor e o prazer, a adversidade e a felicidade, a realidade contaminada de lirismo, sempre no mesmo plano, pela música e no rosto de uma mulher extraordinária. Distinguido em Berlim com o Grande Prémio do Júri, "Félicité" é o primeiro filme desse concurso (e o primeiro de Gomis) a chegar às salas portuguesas, pela distribuidora Lanterna de Pedra. Saliente-se (e saúde-se) a celeridade da aposta: é uma das mais valiosas em cartaz neste fim de primavera.
Francisco Ferreira, Expresso




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