BANDO DE RAPARIGAS | 27 OUTUBRO | ARTISTAS | 21H30


BANDO DE RAPARIGAS
Céline Sciamma
França, 2014, 113’, M/14


FICHA TÉCNICA
Título Original: Bande de Filles
Argumento e Realização: Céline Sciamma
Fotografia: Crystel Fournier
Montagem: Julien Lacheray
Produção - Bénédicte Couvreur
Interpretação: Assa Sylla, Karidja Touré, Lindsay Karamoh, Mariétou Touré
Ano: 2014
Origem: França
Duração: 113´


FESTIVAIS E PRÉMIOS

Festival de Cannes 2014 – Quinzena dos Realizadores
Prémios César 2015 – 4 nomeações, incluindo Melhor Realizadora
Finalista do Prémio LUX da Comissão Europeia
Festival de San Sebastián – Prémio TVE Outro Olhar


CRÍTICAS
A terceira longa de Sciamma instala-se num subúrbio de Paris, para seguir uma adolescente negra que vive sufocada pelo seu contexto. O início do filme limita-se, aliás, a situar a personagem no seu meio, conduzindo-nos pelas ruas (dominadas pelos rapazes), pela escola (que nada lhe promete) e pelo apartamento da sua família (liderada pelo seu tirânico irmão mais velho). Haveria aqui terreno para o lugar-comum sociológico, mas, felizmente, Sciamma despacha a descrição do contexto (sempre presente em fundo) num par de pinceladas. O que cativa a câmara é, ao invés, a possibilidade de mostrar como a protagonista tenta libertar-se do seu mundo.
Trata-se de um desejo que cedo a levará a juntar-se ao bando de raparigas do título, formado por três though girls (todas interpretadas por não-atrizes) que à escola preferem a evasão (vaguear pelos centros comerciais...). A partir daqui, o filme encetará um constante movimento de vaivém entre o pessoal e o coletivo, para verificar como a protagonista depressa encontra no universo paralelo do gangue uma nova amarra à sua liberdade. Mas, mais do que a história, o que é sublime, aqui, é o modo como Sciamma fica sempre à altura das personagens, nunca caindo na tentação de trair os seus pontos de vista. É uma exigência de fidelidade que se nota, em especial, na construção dos diálogos, que, no caso, primam pela sua vitalidade (como se cada palavra saísse em estado bruto da boca das raparigas).
Uma bela surpresa, portanto. 
Vasco Baptista Marques, Expresso, 29/8/15



Costuma dizer-se “à terceira é de vez”. E, ao terceiro filme, a francesa Céline Sciamma arranca uma das obras mais inteligentes e certeiras que vemos este ano, naquela que é também a sua estreia em salas portuguesas (às quais Naissance des Pieuvres, de 2007, e Maria-Rapaz, de 2011, nunca chegaram, o último tendo ido directo para video).
Subversão procurada e inteligentíssima do “filme-manifesto social”, Bando de Raparigas recusa toda e qualquer condescendência no seu retrato de uma adolescente dos subúrbios parisienses cuja timidez esconde uma determinação brutal a escapar à condição a que o “sistema” parece querer condená-la — condição feminina, condição africana, condição de cidadã “de segunda classe” sem futuro nem saída.
Bando de Raparigas é um filme de descoberta e de criação de uma identidade, de uma miúda que se faz mulher à nossa frente, contado com uma energia e uma sensibilidade que viram de cabeça para baixo todos os lugares-comuns a que o cinema social costuma prestar-se. Bastaria a célebre cena do hotel ao som de Rihanna para nos convencer, mas este é um filme que faz sentido como um todo inesgotável.
Jorge Mourinha, publico.pt

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