ESPÍRITO DE '45, de Ken Loach - Teatro Municipal - 21h30 - 24 Março


O ESPÍRITO DE '45
Ken Loach, Reino Unido, 2013, 94', M/12


FICHA TÉCNICA
Realização:  Ken Loach
Montagem: Jonathan Morris 
Fotografia: Stephen Standen 
Música: George Fenton 
Imagens de Arquivo: Jim Anderson
Pesquisa: Izzy Charman 
Origem: Reino Unido
Ano: 2013
Duração: 94'


FESTIVAIS
Festival de Berlim 




TRAILER


NOTA DE INTENÇÕES
A Segunda Guerra Mundial foi uma luta, talvez a maior e mais considerável luta colectiva em que este país esteve envolvido. Apesar de outros terem feito sacrifícios maiores, o povo da Rússia, por exemplo, a determinação de construir um mundo melhor era tão forte aqui como nos outros países. Nunca mais, acreditava-se, iríamos permitir que a pobreza, o desemprego e o fascismo desfigurasse as nossas vidas.
Ganhámos a guerra juntos, juntos podíamos ganhar a paz. Se conseguíamos planear campanhas militares, não conseguiríamos também construir casas, criar um serviço de saúde e um sistema de transportes, fazer o que era necessário para a reconstrução? 
A ideia central era a do bem público, em que a produção e os serviços beneficiariam todos. Não deveriam uns poucos ficar ricos em detrimento de todos os outros. Foi uma ideia nobre, popular e aclamada pela maioria. Foi o Espírito de 45. Talvez seja altura de o relembrar hoje. 

Ken Loach


CRÍTICAS
Ken Loach documenta a ascensão e queda do sonho de uma sociedade mais justa na Inglaterra do pós-guerra.
Não seria preciso este documentário sobre a Inglaterra do imediato pós-Segunda Guerra para confirmar o britânico Ken Loach como um dos poucos cineastas genuinamente activistas ainda em actividade.
Mas apesar dos dois anos de atraso com que nos chega, a verdade é que O Espírito de ‘45 – provavelmente o seu melhor filme em largos anos – transcende o activismo para falar aos nossos dias de austeridade, contando a história da vitória do Partido Trabalhista nas primeiras eleições após o fim da guerra e o modo como ela redesenhou a paisagem social e política britânica.
A intenção do governo de Clement Attlee era prolongar no pós-guerra o espírito de unidade e coesão que embalou Inglaterra de 1939 a 1945, numa espécie de “grande experiência democrática” que veio mudar os parâmetros do velho império entretanto desaparecido. Loach contrasta a esperança desses “amanhãs que cantam” com o seu desmantelamento dessa sociedade às mãos do governo de Margaret Thatcher, sem ilusões quanto às “batalhas a travar” mas sugerindo que só reclamando esse espírito utópico se poderá inverter a “curva descendente” da sociedade. A força das imagens de arquivo e dos testemunhos recolhidos é suficiente para transcender o classicismo algo rígido da apresentação, mas sente-se mais alma em O Espírito de ‘45 no que na última meia-dúzia de ficções assinadas pelo cineasta britânico.
Jorge Mourinha, publico.pt/



O Espírito de '45, um documentário realizado por Ken Loach em 2013 e que chega agora ao mercado português com todo este atraso, faz uso de imagens de arquivo das condições de vida no pós guerra no Reino Unido para traçar um panorama do espírito da população naquele crucial momento histórico. Para Loach, que para além das imagens de arquivo vai dando forma à sua argumentação a partir de testemunhos de pessoas que partilharam um projeto político e comunitário conjunto, um dos aspectos fundamentais neste espírito de 1945 foi o sentido de comunidade e do trabalho para o bem comum – princípios basilares do Estado Social erguido pelo governo de Clement Altee. O documentário aborda duas questões fundamentais, a partir de dois momentos bastante distintos: a centralidade do Estado Social para uma nova Grã-Bretanha acabada de sair da Segunda Grande Guerra, mais solidária e empenhada em construir um futuro próspero para todos; e a subida ao poder do governo Thatcher, e a progressiva erosão desse legado material e simbólico. O propósito, de declarada inclinação política, é o de contribuir para que esse entusiasmo pela construção de um futuro possam servir de exemplo e de inspiração para os dias de hoje.
Altee, que sucedeu a Churchill nas primeiras eleições do pós-guerra, implementou um conjunto de políticas à altura da vontade de profunda mudança daqueles tempos, com destaque para um extenso programa de nacionalizações e da criação do NHS, o sistema de saúde nacional britânico. Loach recolhe um conjunto de depoimentos de cidadãos que beneficiaram das melhorias das condições de vida que resultaram dessa política, que ao longo de três décadas foi capaz de impulsionar o crescimento económico britânico. Excertos do manifesto do Partido Trabalhista para as eleições de 1945, que são ocasionalmente narradas e sobrepostas a imagens de arquivo, têm uma particular ressonância para com os dias de hoje: "As dificuldades nos períodos entre-guerras não foram atos de Deus, nem de forças ocultas. Foram antes o claro resultado da concentração de demasiado poder económico na mão de poucos"; ou ainda, "o custo daquilo a que designamos por 'liberdade económica' para a população democrata é demasiado elevado se for alcançado à custa da miséria e desperdício do potencial de milhões".

Formalmente, é um documentário de alguma banalidade. Loach coloca as questões sempre atrás da câmara, num registo que que associamos frequentemente à televisão e não tanto ao cinema. Os depoimentos recolhidos são também eles a preto e branco, em continuidade com os fantasmas das imagens de arquivo, como se os ideias e valores daquelas pessoas pertencessem já a um passado lamentavelmente irrecuperável. Nos momentos finais, Loach regressa às mesmas sequências com que abre o documentário, que dizem respeito às comemorações pelo fim da guerra, mas neste último olhar as imagens já são a cores: talvez ainda haja esperança.
O melhor: Uma evocação inspiradora de um período importante na história contemporânea.
O Pior: Nada a apontar
José Raposo, c7nema.net

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