MARIAS CHEIAS DE GRAÇA também declaram a guerra. 3ªf, 21h30, IPJ.

DECLARAÇÃO DE GUERRA
Valérie Donzelli
França, 2011, 100’

COMENTÁRIO DA REALIZADORA
Este filme é inspirado numa história verídica – a minha.
É a história de um amor jovem, o de Julieta e Romeu, arrancados de forma dura da sua felicidade despreocupada e forçados a confrontar o inesperado e brutal caos da vida.
A doença do seu filho, Adam, vai obrigá-los a lidar com um desafio terrível, para se tornarem adultos. Mas, por mais traumatizante que seja, o seu sofrimento vai permitir que eles cresçam. Vai revelá-los a si mesmos – a sua força, a sua coragem. “A vida enorme e cheia de perigos”, e é apenas na batalha que o nosso verdadeiro heroísmo se revela.
Valérie Donzelli

"Declaração de Guerra" começa com uma mãe a conduzir um miúdo de oito anos a um exame radiológico num hospital. Depois o filme muda completamente de direção e narra o encontro, a paixão e o nascimento de um bebé a um jovem casal. Logo vêm as perturbações que causa na vida deles a irrupção da criança e, um pouco mais para diante, logo defrontam um obstáculo verdadeiramente grave: um tumor no cérebro é diagnosticado no miúdo, aos dezoito meses. A partir daqui, "Declaração de Guerra" transforma-se num drama lancinante. Não é, todavia, uma avalanche - aquele casal não se defronta com a morte de um filho, mas com uma tarefa longa, penosa, desgastante, anos a fio de toda a vida centrada numa criaturinha numa cama de hospital. O filme não é um terramoto emocional, o espetador sabe, daquela cena inicial, que a criança sobrevive. Também não é um gesto de piedade por um miúdo de tenra idade - há o bom senso de nunca explorar o sofrimento de quem está doente e os fáceis sentimentos do público. Antes, fala do abalo que a situação causa no pai, na mãe e no casal como entidade de partilha de sentimentos, eventualmente da destruição de laços ante a insuportabilidade da aflição, do descontrolo face ao destino e, muito em especial, da corrosão que um quotidiano que nenhum deles deseja introduzir na sua relação. E fá-lo de uma maneira equilibrada, consciente das sensibilidades que se podem ferir, usando os mecanismos do cinema de um modo que tem um pendor documental e um apelo de ficção e as vertentes ponderadas com sensatez. Veja-se tudo o que diz respeito às estruturas hospitalares, de um ponto de vista físico e burocrático, que parece de quase documentário; veja-se o encontro entre os dois protagonistas na discoteca, ou a correria dela pelos corredores do hospital até ao desfalecimento, coelhos tirados da cartola de um ficcionista. Em qualquer caso, assinale-se o sentido das proporções que sempre se revela, nunca deixando o filme descarrilar para qualquer das facilidades que a sua dramática história propiciaria. Esse sentido de medida - a que também se pode chamar pudor - tem, provavelmente, tudo a ver com o facto de os criadores de "Declaração de Guerra" falarem de algo que lhes é próximo, na realidade, falarem de si próprios. Aqueles atores que vemos no filme (Valérie Donzelli e Jérémie Elkaim - o casal protagonista) viveram mesmo uma situação assim e o miúdo de oito anos que nele aparece (Gabriel Elkaim) é o filho de ambos que conseguiu a remissão de um cancro no cérebro. Mais: escreveram o argumento em parceria e Valérie Donzelli é a realizadora. Todavia, sempre declararam que não se quiseram expor em primeiro grau e que o filme é inspirado nos acontecimentos autobiográficos, mas, a partir do momento em que o decidiram fazer, se tornou num trabalho de construir uma história que agradasse ao público. "Declaração de Guerra" chega-nos depois de ter tido honras de abertura na Semana da Crítica do Festival de Cannes de 2011 e uma boa receção de público nas salas francesas. Mas terá sido essa vontade de agrado que levou ao happy end delicodoce que esteve prestes a pulverizar o capital acumulado durante os quase cem minutos que o antecederam? É bem possível. A final de contas, a narração em off diz que eles saíram destruídos da provação, mas o filme exime-se de o mostrar.
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Jorge Leitão Ramos, Expresso


No ano em que o cinema francês parece dar cartas em todo o lado, tanto fora com “O Artista”, como em casa com um estrondoso sucesso chamado “Amigos Improváveis”, a Academia Francesa resolveu levar à candidatura para o Óscar de Melhor Filme outro título, este “Declaração de Guerra”.

O projeto é altamente pessoal para Jérémie Elkaïm e Valerie Donzelli. Juntos escreveram e protagonizaram o filme que ela realizou. Mais tocante é ainda perceber que a experiência retratada no filme se baseia na vivência real dos atores, e do seu filho Gabriel.

Romeu e Juliette são bonitos, jovens, apaixonados. Algum tempo depois chega um bebé e o casal parece caminhar para a felicidade plena. No entanto é diagnosticado ao bebé de 18 meses um tumor no cérebro e começa a “guerra”.

Sem cair no mais puro dos lamechismos que a delicadeza do tema abordado impunha, “Declaração de Guerra” é um retrato real de um casal jovem e inexperiente que se vê a braços com a trágica doença do filho. Sem nunca baixarem os braços, os jovens enchem-se de otimisto e aceitam o desafio de lutar todos os dias pelas melhoras do filho. Mas claro que isso tem um preço para ambos.

Desiludam-se se pensam que estamos perante um filme sobre a doença, ao invés temos aqui o retrato da perspetiva dos pais, e que explora, entre a respeitável distância e o buraco de fechadura as entranhas da relação, e a forma como esta vai sendo desgastada pelas circunstâncias que vivem.

O trabalho de Elkaïm e Donzelli é de enorme mérito em todas as frentes. Destaque para a forma como escreveram e compuseram os seus papéis, com esperança e recusando-se a puxar descaradamente à lágrima e à pena como os melodramas domingueiros a que estamos habituados. A ver!
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Carla Malheiros, c7nema.net


«Declaração de Guerra» é acima de tudo um filme de amor a vida, principalmente porque aborda um tema difícil, concretamente um tumor no cérebro de uma criança. Valérie Donzelli, realizadora e actriz, e Jérémie Elkaïm, actor, interpretam os papéis que viveram na vida real, já que ambos são os pais da criança que sofreu o cancro…

«Declaração de Guerra» é uma obra que tinha tudo para ser melodramática, mas acaba por ser um verdadeiro manifesto de vida. Um filme humano, preenchido de amor. Não é certamente por acaso que Valérie Donzelli e Jérémie Elkaïm sejam Julieta e Romeu, respectivamente, no filme. E também não é coincidência que o seu filho, o primeiro, chame-se Adão.

A história retratada no filme foi a que passaram Donzelli e Elkaïm. Por isso, estamos perante um filme honesto, pois ambos sabem perfeitamente os dramas e as angústias que viveram quando souberam que o seu filho estava entre a vida e a morte antes de completar dois anos. Até então, o casal vivia uma verdadeira história de conto de fadas, típica de qualquer adolescente.

Desde logo Donzelli revela ao espectador que a batalha foi ganha, já que vemos o seu filho a realizar mais um exame, já com cerca de 13 anos, logo na cena inicial. Só depois a realizadora começa a contar o que viveu juntamente com Elkaïm, o que de certo modo retira toda a angústia que o filme poderia trazer.

A realizadora assume sem complexos que «Declaração de Guerra» é uma homenagem ao filho e por isso paira o optimismo ao longo do filme. Apesar das dúvidas e das incertezas, há sempre uma palavra, um gesto, um movimento que leva os protagonistas em frente, na luta constante pela sobrevivência de Adão.


Mesmo quando os médicos não mostram grandes expectativas, Donzelli e Elkaïm mostram confiança e vontade de vencer. Aliás, o equilíbrio encontrado pela realizadora entre a dor e o optimismo é uma das bases de sustentação do filme, caso contrário a película cairia muito provavelmente para o drama. São raros os momentos de sofrimento, algo de certo modo contra-natura em obras deste teor…

«Declaração de Guerra» é assim um filme sobre a Vida tendo como sustento o Amor. O amor pelo filho, mas também entre dois jovens que foram obrigados a crescer de forma inesperada. Um filme para espantar de vez com qualquer fantasma, ao mesmo tempo que serve de exemplo e incentivo para milhares de pessoas. Um hino aos lutadores da vida.
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Diário Digital



Título Original: La Guerre est Declarée
Realização - Valérie Donzelli
Argumento - Jérémie Elkaïm, Valérie Donzelli
Fotografia - Sébastien Buchmann
Montagem - Pauline Gaillard
Som - André Rigaut
Interpretação: Valérie Donzelli, Jérémie Elkaïm, César Desseix, Gabriel Elkaïm, Brigitte Sy, Elina Lowensohn, Michèle Moretti, Philippe Laudenbach, Bastien Bouillon, Béatrice de Staël, Anne Le Ny
Origem: França
Ano: 2011
Duração: 100´
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