PATER - 2ªf, 21h30, IPJ, verdade e simulacro, parábola e divertimento, documentário e ficção - é a política!!

Pater fala de política, da palavra, de poder, de pais. Perfeitamente. Um filme lúdico e profundo.
Jean-Marc Lalanne, Les Inrockuptibles

Anunciado como “um dos filmes mais bizarros exibidos em Cannes”, aureolado com uma reputação de OVNI ovacionado, “Pater” surpreende até os mais profundos conhecedores da obra de Cavalier.
Joachim Lepastier, Cahiers du Cinéma


Nos últimos anos, Alain Cavalier descobriu as delícias das novas câmaras digitais. Tirando partido dos modelos mais ligeiros, tem feito alguns filmes de inesperado risco introspectivo (lembremos Irène, de 2009) que são também metódicos exercícios contra o naturalismo demagógico da televisão. Agora, com Pater, Cavalier avança um pouco mais nesse processo de discussão dos limites do cinema, integrando um actor cúmplice, Vincent Lindon. Que fazem eles? Pois bem, uma espécie de documentário forjado da sua própria amizade, começando por discutir gastronomia e gravatas, para desembocarem numa farsa em que Cavalier é Presidente da França e Lindon primeiro-ministro, avaliando estratégias para as próximas presidenciais. Para além das perversas conotações que o filme pode adquirir no contexto francês, há nele um sentido de ironia que desmancha, ponto por ponto, a facilidade com que as televisões se assumem como veículos de uma verdade sem mácula. Para Cavalier, receber uma imagem é também discutir os seus graus de verdade. Ou como o cinema pode ser mais sincero que a televisão.
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João Lopes, Diário de Notícias


Inventar a política
Entre várias coisas, uma reflexão, prática, sobre a política como questão de aparências e de representação.

Alain Cavalier (que nasceu em 1931) faz parte daquele grupo de cineastas que acolheu a chegada do “cinema digital” como um novo começo, como a descoberta de um oceano de possibilidades que ainda não existiam. Está no YouTube uma entrevista dele, em Cannes e a propósito de “Pater”, onde ele fala da “invenção sublime” que foram as pequenas câmaras digitais, e de como elas mudaram não apenas o que se pode fazer mas também a maneira de o fazer. Da boca de Cavalier, não é proclamação vã: o seu cinema redescobriu-se e reinventou-se, de facto, a partir do momento em que passou a trabalhar com estes meios, como não será preciso explicar a quem tenha visto os seus últimos filmes, “Le Filmeur” ou “Irène”, ambos mostrados em Portugal.

Em “Pater”, Cavalier pega no ponto em que estava - o “intimismo”, o intimismo de uma cinema feito com o que está à mão e ao alcance da mão - para tornar as coisas mais complicadas. Ao registo diarístico e confessional sucede-se um arremedo de ficção (peculiar, como veremos), ao cinema “na primeira pessoa” sucede-se um desdobramento de personalidade, porque agora há um “partenaire” (o actor Vincent Lindon) e vários “papéis” (para Cavalier e para Lindon) que se sobrepõem. Dá um filme bastante inqualificável - descrevê-lo como? Ficção documental? Documentário ficcionado? - que trabalha em camadas (camadas de “realidade” e camadas de “ficção”) mas sobretudo trabalha na ligação entre elas, parecendo interessar-se essencialmente pelos momentos em que uma coisa se transforma na outra e vice-versa.

A primeira cena (uma cena de refeição, das várias que há no filme) lança os dados. Vemos as mãos de Cavalier a preparar trufas e saladas (a câmara está nas mãos de Lindon), conversa de circunstância, e a dado passo Cavalier anuncia que escolheu Lindon para ser “o seu primeiro-ministro”. Inaugura-se o jogo, o “faz de conta” que está na raiz do filme: Cavalier e Lindon inventarão uma relação de Presidente (o próprio Cavalier) e primeiro-ministro, “Pater” será a história dessa relação sem nunca deixar de ser a história do fabrico dessa relação. Para voltar a pegar em termos de “catalogação” habituais, “Pater” é ao mesmo tempo o filme e o seu “making of”.

O seu principal mérito, no meio de tanto jogo? Nunca parecer só um jogo, conservar a aparência de espontaneidade e improviso sem nunca andar ao Deus dará, investir de uma profunda intencionalidade todos aqueles momentos em que se está “entre” (entre aquilo que Cavalier e Lindon são e aquilo que Cavalier e Lindon representam), e ao mesmo tempo ser, efectivamente, uma invenção, uma invenção política e uma invenção da “política”, cheia de ressonâncias contemporâneas (o dinheiro, claro) e até premonitórias (o “affair” Strauss-Kahn surge como assombração numa cena, aliás soberba, em que Presidente e primeiro-ministro discutem o que fazer com uma fotografia comprometedora do principal rival eleitoral).

O paternalismo da relação, explicitado no título e por vezes evocado de maneira quase psicanalítica (como quando Cavalier, em monólogo frente ao espelho, fala do “autoritarismo” do seu pai, e lamenta ter-se tornado nele), cumpre-se nos seus trâmites clássicos, visto que chegará o momento em que o primeiro-ministro terá que afrontar o Presidente, ser “pater” no lugar do “pater”, e, como na expressão de Cavalier, “tornar-se nele”. Cavalier, nas suas intervenções sobre o filme, tem insistido na questão paternal e no carácter pessoal do filme, talvez uma maneira de frisar a que ponto “Pater”, pesem as espirais e as ficções, continua a ser o resultado de um trabalho sobre o intimismo. Mas isso é só um terço do filme; outro terço é uma reflexão, prática, sobre a política como questão de aparências e de representação (“Pater” fica bem ao lado “Um Passeio Pela História”, o belo filme de Robert Guédiguian sobre os últimos dias de Mitterrand), sucessivas máscaras que se põem e se tiram conforme as circunstâncias (o diálogo em que Cavalier pergunta a Lindon pela sua vida privada, alertando-o para o perigo de qualquer esqueleto no armário); e o derradeiro terço é sobre os dois homens que brincam com todas estas máscaras, dois homens que representam que representam ou não representam de todo, como quando Lindon chega ao apartamento que serve de estúdio, Cavalier recebe-o com um “bom dia Sr. primeiro ministro”, e Lindon desata num longo monólogo sobre algo que lhe sucedeu naquela manhã, não “como primeiro-ministro” mas “como Vincent Lindon”. Ou pelo menos assim o julgamos - e nesta margem de indefinição da falsidade está, se não toda a verdade, pelo menos a verdade mais importante de “Pater”.
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Luís Miguel Oliveira, Público


Na intimidade do poder político
Ator e realizador. Presidente e primeiro-ministro. Alain Cavalier e Vincent Lindon. Ambos documentam os seus encontros e inventam uma ficção política.

Imaginemos os bastidores do poder, o encontro entre dois protagonistas políticos, Pedro Passos Coelho e Cavaco Silva. Imaginemos que ambos discutem as questões do Estado, saboreando um bom queijo, umas trufas, e partilhando um caloroso vinho. Ei-los comentado qual é a gravata mais adequada, avaliando o custo de um fato e assumindo que não pode ser demasiado caro, ou ensaiando a pose perante um espelho, trocando um conselho amigo.

Impensável? Estamos nos bastidores do poder ou na intimidade dos políticos?

Podemos imaginar que isso sucede projetando-os nas situações protagonizadas pelo realizador Alain Cavalier e o ator Vincent Lindon. Em "Pater", eles discutem questões de método de trabalho de um realizador e de um ator, debatem que filme farão/estão a fazer juntos, interagem como pai e filho, e a certa altura assumem os papéis de um Presidente da República (Cavalier) e do seu primeiro-ministro (Lindon).

Durante um ano, Cavalier e Lindon conviveram, ensaiaram uma relação de poder e construiram uma agenda política (discutindo questões concretas, como os tetos das reformas...). O poder é exercido na intimidade num filme pessoal que foi feito a partir de um esboço de argumento, um esqueleto de nove páginas que não tinha um único diálogo escrito.

Ficção? Documentário?

Este filme é um ovni, objeto estranho que baralha o espetador. Cavalier e Lindon parecem duas crianças divertindo-se perante câmaras digitais, numa farsa diletante que encontra eco na atualidade recente da vida política francesa. Mas brincando aos governos eles revelam um olhar surpreendente sobre as formas de encenação política e de representação no espaço público e mediático.

"Pater" é um óptimo exercício de cidadania, um dos filmes mais livres do ano e que desafia a nossa forma de encarar o modo como o poder (o teatro da política) é exercido perante… os nossos olhos.
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Tiago Alves, Cinemax


CONTÉM DECLARAÇÕES DO REALIZADOR

De que parte do cérebro de Cavalier brotou esta ideia ?
«Senti-me, depois de ‟Le Filmeur‟ (2005) e „Irène‟ (2009), a andar em círculos no meu cinema muito autobiográfico, ou mesmo a atingir demasiado a minha própria imagem », explica.
Mas porquê um Presidente e o seu Primeiro-ministro ? « Há uma fonte muito óbvia nesta ficção . O meu pai, que começou a perder a visão pouco depois dos 40 anos, havia instalado uma bicicleta dentro de casa para manter a forma, depois de ter tido alguns acidentes na estrada, porque se recusava a reconhecer a sua cegueira. Um dia – já velho e a pedalar -, ouvi-o a gritar do outro lado da parede : « Eu também podia ser Presidente da República ! É óptimo, não é ? ».

Uma frase que tem um eco na cena em que Lindon, de frente para a câmara, explica que, sim, ele também poderia ser, na vida real, o Primeiro-ministro.

« O pior foi que, no momento em que eu o disse, acreditei verdadeiramente », explica Lindon sorrindo.
« Pensava que conhecia toda a esquizofrenia da profissão de actor, mas não. »

Em Pater, tudo gira em torno da paternidade, do poder simbólico ou real, das lutas entre machos, do falo, da rivalidade entre homens, entre amigos : o Presidente como pai da nação, como pai do Primeiro-ministro, o actor como filho do realizador, o amigo de 79 anos como pai espiritual de um homem mais novo do que ele…

Porquê Vincent Lindon ?
Porquê recorrer a um actor não só profissional mas também famoso ? Durante 30 anos, Cavalier baniu-os do seu cinema, por gosto e escolha. « Na verdade , desde o primeiro dia de rodagem do meu primeiro filme, „Duelo na Ilha‟ (1962), quando Romy Schneider surgiu à minha frente toda maquilhada, apercebi-me da anormalidade da situação, ou, melhor, que os actores profissionais não eram para mim. É difícil de explicar, mas tinha a impressão de que eles estavam a tomar um poder que era meu. Por exemplo, toda a minha vida me bati, com sucesso, para que nenhum actor, mesmo uma estrela, fosse mais bem pago que eu nas filmagens. Caso contrário, é bizarro. Para além disso, durante as rodagens, muitos actores representam para a equipa técnica. Cheguei a ver técnicos a aplaudir no final de um take. Isso é inconcebível para mim ! »


O último desses profissionais foi Jean Rochefort, em « Un Étrange Voyage » (1981).
« Eu e Rochefort tínhamos a mesma idade, 50 anos. E trabalhando com um actor de 50 anos agora, senti-me a rejuvenescer. Em troca, dei-lhe a oportunidade de filmar um tipo de cinema diferente. »

Porquê renunciar a essa promessa ? Já em „Irène‟, Cavalier admitia o seu fascínio de sempre por Sophie Marceau – através de uma fotografia da actriz colocada num cartaz e à qual ele se dirigia várias vezes. Que se passou ? A resposta tem uma palavra : amizade.

Tudo começa com um encontro fortuito, há dez anos, numa rua de Saint-Germain-des-Prés, em Paris, (história contada no filme), na rua do Bac. Lindon passeava com um amigo quando reconheceu Alain Cavalier que admirava desde „Thérèse‟ (1986) – Catherine Mouchet, a protagonista, também é natural de Etretat, como a família Lindon, e as duas famílias perpetuaram laços de amizade desde há cem anos.

Ele diz-lhe. « Ficaria muito triste se na minha carreira não fosse filmado por si um dia », diz Vincent Lindon a Alain Cavalier, acrescentando que nunca tinha pedido a um realizador para trabalhar com ele.

Na altura, Lindon sabia-o perfeitamente, Cavalier era conhecido por ter decidido realizar filmes sozinho, com a sua câmara, depois de ter traçado uma mais convencional carreira como realizador, comercial e brilhante. O realizador encontrava-se naquela época a filmar um amigo que aceitou perder 45 quilos em frente da sua câmara (« René », estreado em França em 2002). Cavalier (Lindon saberá bem mais tarde que o cineasta gostou da expressão « ser filmado por si » em vez de « fazer um filme consigo ») respondeu-lhe da seguinte forma :
« Olha, acho que nunca voltarei a trabalhar com profissionais. Mas se eu tiver de o fazer, será consigo. Pode parecer a retribuição de um elogio mas digo-o verdadeiramente. »


Um projecto construído sobre uma amizade
Nesse momento, Lindon ficou dividido entre o orgulho e a dúvida. Mas os dois acabaram por se encontrar com intervalos cada vez menos espaçados. Vão a casa de um, e de outro, bebem café, atravessam Paris a pé até ao 16º arrondissement ou ao 6º ou vão juntos ver um clássico de Hollywood no Action Christine. Eles confiam um no outro.

Lindon, que perdeu o seu pai « demasiado cedo », reúne os seus elos perdidos com Cavalier : « Quando ele era jovem, tinha uma banda com os amigos, bebiam, faziam a festa… Acredito que ele se revê um pouco em mim. Com ele falamos de tudo : mulheres, futebol, Castel, o meu tio Jérôme Lindon, Deneuve ! Ele sabe tudo sobre literatura e arte : para mim, é Malraux ! E para além disso, tudo o diverte, quer as minhas alegrias quer as minhas tristezas. Tudo o interessa. É um pouco como o pai que todos sonharíamos ter… »

Podemos ainda acrescentar que ambos têm em comum serem, durante as entrevistas, muito concentrados e atentos a tudo o que os rodeia : um anel num dedo, uma mulher solitária que chora na mesa do lado, aquilo que lemos, aquilo que pensamos…

Por seu lado, Cavalier teve sempre de enfrentar uma figura paternal muito rigorosa (o seu pai era um alto funcionário). Os dois homens em busca de um pai, e talvez de filhos porque ambos são pais de uma filha única, telefonam-se, falam, bebem copos nos bares de hotéis de luxo em Paris. E assim, num dia em 2007, discretamente, Cavalier anunciou de forma velada a possibilidade de um filme : « Vincent, ontem tive uma ideia sobre ti. Vi-me a filmar-te. Não sei como. Se assim continuar, nada se fará. Mas queria dizer-te que tive uma pequena ideia…”

A ideia progrediu, com mudanças claras. Em Janeiro de 2010, segundo Lindon (que o imita muito bem), Cavalier pronunciou a seguinte frase, rodeado de um copo de amendoins, no Hotel Meurice : « Acho que tenho uma ideia para uma pequena proposta : talvez criemos alguma confusão os dois. Aquilo que te proponho, será melhor se eu te visitar com a minha câmara. Se não correr bem, paramos. » Lindon aceitou.

Para conseguir financiamento, Cavalier escreve uma nota de intenções de nove páginas, mais meditação literária sobre a figura do pai do que um verdadeiro argumento. Um dia, durante a « rodagem », Cavalier surge no filme através de uma voz off, depois aparece de costas e finalmente de frente. Ele desliza para dentro do seu filme, no seu papel. O princípio do filme impõe-se pouco a pouco : os dois, a câmara, um Presidente da República, o Primeiro-ministro, os desafios do poder.


Trabalham entre os dias de rodagem de Lindon nos filmes grandes (nomeadamente o novo de Philippe Lioret, « Toutes nos envies »), improvisam. Filmam num take. Se o filme não ganhar forma, não existirá, tanto pior.

Aqueles que forem ver PATER constatarão que a alimentação e a bebida ocupam aqui um papel importante – tal como no Pai Nosso (« o pão nosso que nos dai hoje ») ? Os encontros entre os dois homens políticos e os dois acólitos, nos seus papéis ou não, flutuam no meio de pratos saborosos (trufas !) devorados com evidente apetite. Encontramos um pouco, mais chic, o ambiente masculino que banhava « Le Plein de super » (1976), o primeiro « filme de homens » realizado por Cavalier e co-escrito com os seus intérpretes (Etienne Chicot, Patrick Bouchitey, Xavier Saint-Macary, Bernard Crombey)

A verdade é que Cavalier e Lindon nunca filmaram sem previamente almoçarem juntos. « Cavalier dizia-me logo no início : „E se, antes de tudo, fossemos comer chucrute no Lipp, Vincent ? » Após o almoço, os dois seguiam para casa de Lindon. E depois, sem pressas, Cavalier colocava a sua câmara e filmava. Sem claquete, sem « corta ! ». A cãmara continuava a filmar durante as interrupções quotidianas (um toque de telefone, um pequeno copo de vinho e uma chávena de chá).

Cavalier dizia com a sua voz suave : « E se falássemos um pouco de política nuclear, Vincent, qual a tua opinião ? » E os dois homens voltavam a ser imediatamente Presidente e Primeiro-ministro…
« Bem, sendo franco, Cavalier cortou bastante, felizmente. Temos frequentemente conversas de café como toda a gente tem na sua vida ! »



Lindon é levado pelo jogo. No dia em que ele se apercebe que o « presidente da República » deseja mudar de « Primeiro-ministro », ele pede a Cavalier para lhe confiar a câmara durante uns dias. Essa cena permaneceu no filme e é uma das mais belas. Ela foi, portanto, filmada sem o seu realizador… « Fizemos coisas incríveis, foi louco, louco ! », exclama Vincent Lindon, de olhos humedecidos.

Sugerimos a Alain Cavalier que a experiência nos faz recordar um pouco a escrita automática, a técnica imaginada por Breton e Soupault para escrever « Les Champs Magnétiques », ou faz-nos pensar na escrita do argumento de « Un Chien Andalou » por Buñuel e Dali (cada um deles propõe uma ideia, uma imagem, que se não agradar ao outro é abandonada). Cavalier quer ser mais modesto, preferindo dedicar-se às intrigas políticas (eleições, traições) que construiu e que dão um fio condutor às suas improvisações.

Das setenta e sete horas de imagens, o cineasta guardou uns três quartos.
« Editava-o progressivamente. A rodagem decorreu durante todo o ano de 2010. Deixei as imagens repousar um pouco para esquecer a euforia da rodagem e para poder contemplá-las com um pouco de objectividade. O filme nasceu a pouco e pouco. Guiou-me. Apenas tive de o seguir. »

Vincent Lindon lembra-se do último dia de filmagens : « Cavalier disse-me : „Vincent, tu sabes, acho que o filme terminou… „ Para mim, do ponto de vista profissional, foi o ano mais bonito da minha vida. »

Chegou o dia em que Alain Cavalier decidiu mostrar o filme ao seu produtor, Michel Seydoux, e a Lindon. Deixou-os a sós na sua sala de montagem. «Saí destroçado », confessa Lindon, « Senti-me mal durante todo o dia. Levei algum tempo a compreender porquê. » Alguns problemas de imagem ?
«Bem, é verdade que pela primeira vez me vi num filme tal como sou na vida real, com os meus tiques…»


Cavalier não procura fugir do assunto : « Todos os actores têm problemas com a sua imagem, é algo inerente aquilo que eles são, à sua profissão. Mudei os meus métodos de produzir filmes mas o cinema é a minha profissão : tudo fiz, portanto, para mostrar Vincent a seu favor. Mas sim, foi difícil para ele aceitar ver-se daquela forma, no início. No entanto, para mim, além de um filme sobre o poder e as lutas de poder, PATER é um documentário sobre ele. »

Lindon tem a sua própria explicação para este mal-estar : « Acabei por compreender o que me incomodava. No início do genérico, Cavalier havia posto : Vincent Lindon em PATER, um filme de Alain Cavalier. E eu disse-lhe : « Não, Alain, não pode ser, tens de estar ao meu lado no genérico ». Ele mudou e agora está comigo. Senti-me aliviado. Podia finalmente aceitar ver o filme. »

A selecção do filme para a competição de Cannes foi outro dos acontecimentos extraordinários desta estranha aventura. Sem falar do triunfal acolhimento do público : « No início, ficámos comovidos, mas depois, ao final de uns minutos, não sabíamos o que fazer ou dizer, portanto continuámos a sorrir e a dizer que aquilo ia parar. Mas não, as pessoas continuaram a aplaudir », explica Cavalier, exprimindo a sua emoção real e visível de forma velada. Lindon é mais directo : « Nunca me esquecerei. »
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Jean-Baptiste Morain



Realizador: Alain Cavalier
Argumento: Alain Cavalier, Vincent Lindon
Fotografia: Alain Cavalier, Vincent Lindon
Montagem Bruno Patin
Produtor: Michel Seydoux
Mistura de Som: Florent Lavallée
Interpretação: Vincent Lindon, Alain Cavalier, Bernard Bureau,Jonathan Duong,
Hubert-Ange Fumey, Jean-Pierre Lindon, Manuel Marty, Claude Uzan
Origem: França
Ano: 2011
Duração: 105’
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