não acreditamos que não tenha visto ainda. não acreditamos que não o queira (re)ver. HOME - O MUNDO É A NOSSA CASA. Sáb, Pátio de Letras, 22h.

ENTRADA LIVRE.

Agradecemos ao Dr. Élio Vicente, biólogo marinho, a disponibilidade para comentar o filme e o debater com o público no final.



Para assinalar o Dia Mundial do Meio Ambiente [5 de Junho], chega aos cinemas [2009, tendo sido estreado em 50 países diferentes de forma totalmente gratuita e sem lucros comerciais, e igualmente lançado em dvd e no youtube] de todo o mundo "Home - O Mundo é a Nossa Casa" , um documentário de Yann Arthus-Bertrand que nos convida a contemplar, a entender e a apaixonarmo-nos pela Terra. O filme, que teve origem no livro de Bertrand e na série documental "The Earth From Above", mostra-nos imagens aéreas de alguns dos mais impressionantes tesouros do mundo, distribuídos por 50 países, e a forma como, em apenas algumas décadas, a Humanidade interferiu no equilíbrio estabelecido nos últimos quatro biliões de anos. A mensagem é clara: o preço a pagar é alto mas é tarde demais para sermos pessimistas. A Humanidade tem 10 anos para mudar de vida e salvar o planeta...
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HOME, um poderoso projecto

PARA AUMENTAR A CONSCIENCIALIZAÇÃO...

Durante milénios, o génio humano tem moldado o planeta.
A Europa tem alterado, durante vários séculos, o seu ambiente natural em beneficio das terras cultivadas e das cidades. Através da revolução agrícola, a índia tem conseguido alcançar a sua auto-suficiência. Os rios têm sido controlados para regular o acesso à água, para proteger os habitantes de inundações e para, ao longo do tempo, criar energia. Mas é sobretudo a revolução energética da exploração de petróleo que dá origem ao incrível progresso dos últimos 50 anos. Todas estas actividades têm consequências. Actualmente, podemos verificar as mudanças climatéricas devido aos gases do efeito de estufa. Alguns países enfrentam agora violentas desertificações de solos agrícolas. O nível das águas subterrâneas está a diminuir perigosamente.

..ENTRE UMA POPULAÇÃO PASSIVA

A Terra é um ecossistema completo, com todos os seus elementos ligados e interligados entre si. Todas e cada uma das partes do planeta merecem um lugar no HOME. E, uma vez ,que o HOME transmite uma mensagem universal, tudo será feito para alcançar a maior difusão possível. O filme tem como finalidade ser difundido gratuitamente à escala global. O seu único e exclusivo lucro será a partilha de uma chamada de emergência por todos os países do mundo.
HOME é um filme de utilidade pública, um hino ao planeta e à nossa espécie e deverá ser partilhado por todos e por todo o lado.

Como em "A Terra Vista do Céu" o esplendor das imagens irá marcar a nossa imaginação, a nossa representação do planeta, de modo a incentivar-nos a preservar a sua riqueza: metade das nossas florestas subsistem, tal como 3/4 dos mamíferos, os oceanos continuam a esconder grandes quantidades de espécies desconhecidas e fascinantes, 2/3 dos nossos solos agrícolas continuam produtivos e capazes de alimentar milhões de pessoas. Temos a responsabilidade de entender o quão é urgente proteger estes incríveis recursos.



“Vivemos tempos excepcionais. Os cientistas dizem-nos que temos dez anos para alterar a forma como vivemos, para evitar o esgotamento dos recursos naturais e a catastrófica evolução do clima terrestre”, comenta Yann Arthus-Bertrand, o realizador, em comunicado divulgado no site do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (Pnua).

Em causa está o frágil equilíbrio do planeta, ameaçado por aquecimento global, espécies em perigo, esgotamento de recursos naturais. O filme é visto por este fotógrafo como um caderno de viagens, que mostra paisagens captadas de cima. “O documentário apela para uma nova consciência, convidando o espectador a parar por um momento e olhar para o nosso planeta, para os seus tesouros e beleza”.

“Tenho alimentado esta ideia nos últimos 15 anos. O que vi e aprendi ao sobrevoar a Terra mudou-me para sempre”, reconheceu o autor de “A Terra vista do Espaço”, livro que deu origem a uma exposição fotográfica que percorreu o mundo. Em 2008 tinha sido vista por 130 milhões de pessoas em todos os continentes.

Yann, embaixador da Boa Vontade do Pnua, acredita “que temos a sabedoria colectiva para encontrar uma solução”. Até porque, como diz o filme, “é muito tarde para ser pessismista”.

Em 2005, Yann criou a GoodPlanet, uma organização não lucrativa que se dedica a consciencializar as pessoas face à importância do desenvolvimento sustentável.
(daqui)


DEFENDER AQUILO QUE EXISTE

No curriculum de Yann Arthus-Bertrand, encontramos diversos álbuns fotográficos sobre as paisagens ameaçadas do planeta Terra (incluindo o muito popular A Terra Vista do Céu) e também outros dedicados a cães, gatos e cavalos. Através de um olhar cândido e contemplativo, aliado a uma técnica cada vez mais sofisticada, a sua obra impôs-se como um testemunho e um requiem: trata-se de celebrar todas as formas de vida e o seu valor mais básico de património da humanidade.

O filme Home – O Mundo É a Nossa Casa surge como uma consequência directa desse trabalho fotográfico. Poderemos considerá-lo politicamente naïf, quanto mais não seja porque, aqui, apenas pressentimos a quantidade imensa de problemas políticos e geo-estratégicos indissociáveis das questões ambientais. O certo é que há nele uma coerência primordial a que, por ironia e complementaridade, apetece chamar fotográfica. Como quem diz: isto existe. Acrescentando, num misto de alegria e angústia: e é preciso defender aquilo que existe.

Yann Arthus-Bertrand é um fotógrafo francês (nascido em Paris, em 1946), militante das causas ecológicas. Recentemente, no mercado português, pudemos descobrir o seu trabalho através do filme Home - O Mundo É a Nossa Casa, viagem ao mesmo tempo documental e poética através de um planeta ameaçado pelo aquecimento global.

Paralelamente a Home - O Mundo É a Nossa Casa, Yann Arthus-Bertrand foi desenvolvendo um projecto também com várias ramificações (filme, livro, Net), a que deu a designação de '6 Milliards d'Autres' ou, na sua versão inglesa, '6 Billion Others' (6billionothers.org). Trata-se de celebrar a pluralidade dos mais de 6 mil milhões de seres humanos que habitam o planeta Terra através da multiplicação (mais de cinco mil, neste momento) de imagens e entrevistas.
Sabemos que vivemos tempos de globalização. Sabemos também que, por razões que vão desde os problemas ambientais aos laços gerados pelas muitas formas de dependência económica, essa globalização é um dado incontornável da nossa existência. Podemos discutir alguns dos seus pressupostos ou efeitos, mas não é possível viver "fora" dela. Em boa verdade, não há exterior a tal conjuntura. Ora, justamente, aquilo que Yann Arthus-Bertrand tenta colocar em cena é a globalização, não exactamente como um mero ecumenismo sem fissuras, mas como um tecido imenso que se abre (e nos expõe) a uma diversidade impossível de abarcar em todas as suas diferenças, seis mil milhões de diferenças.

O valor de uma experiência deste género não se mede em termos meramente humanistas ou ecológicos. '6 Billion Others' é também o produto de uma ética que resiste aos efeitos mediáticos mais banais que tendem a formatar a própria ideia de globalização. De facto, a ilusão mais corrente dessa formatação impõe uma confusão automática entre globalização e transparência: como se a possibilidade de desfrutarmos de canais de acesso a informações de todo o planeta gerasse um conhecimento automático, e automaticamente transparente, de qualquer cidadão para qualquer cidadão.

No sistema de linguagens do nosso mundo hipermediatizado, o directo televisivo será a mais poderosa figura de retórica desse tipo de ilusões. Não está em causa, como é óbvio, que o directo possa funcionar como um espantoso instrumento de partilha de informação. O que importa questionar é a ilusão de "igualdade" que, muitas vezes, nele se gera. Com alguma ironia (mas também com absoluta pertinência), importa lembrar que não é o facto de usarmos o mesmo tipo de telemóvel de um pescador de uma ilha do Pacífico que torna as nossas experiências iguais ou intermutáveis...

Yann Arthus-Bertrand alerta-nos para a complexidade inerente à globalização: a partir do uno (o planeta em que tudo se liga com tudo), confronta-nos com as infinitas formas do humano. Em última instância, o seu projecto conseguirá que, através da consciência da multiplicidade dos outros, olhemos de forma mais incisiva para o lugar onde vivemos. Aqui e agora.

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João Lopes, Diário de Notícias, 5 de Junho de 2009

O MUNDO EM PERIGO

O projecto representado em "Home - O Mundo É a Nossa Casa" é um prolongamento de outro trabalho realizado em 2004, "La Terre Vu du Ciel", onde Yann Arthus-Bertrand tinha as funções de fotógrafo e que, para além do filme realizado por Renaud Delourme, foi objecto de publicação num volume de fotografias.

A técnica usada em "Home - O Mundo É a Nossa Casa" é praticamente a mesma. Se alguma vez a fórmula à vol d'oiseau faz sentido e pode ser percebida é no visionamento destes trabalhos. O mundo é 'visto' à distância (o olhar de Deus, dos astronautas, ou mais simplesmente da águia) e transfigurado pelo olhar e pela distância, com tudo o que de 'falsificação' esta pode gerar. O trabalho divide-se praticamente em duas partes, e é na primeira que essa marca 'falsificadora' mais se evidencia. As imagens são belíssimas, e a maior parte delas evocam quadros e escolas de pintura, que vão do impressionismo ao abstraccionismo. De certo modo, visionar este filme é como que visitar um museu. E Yann Arthus-Bertrand procede como um pintor ao trabalhar estas imagens, com a saturação de cores que o trabalho digital proporciona, os enquadramentos rebuscados como que para corresponderem a telas. Esta 'perfeição' e beleza marcam também os limites do trabalho e das intenções que lhe estão subjacentes. Aquele mundo que a câmara nos mostra não existe. É um trabalho de criação artística. Deste ponto de vista tem o autor todo o direito e liberdade de fazer o que bem entende e como entende (no fim de contas, a pintura é isso mesmo: uma transformação do real através do olhar do pintor, que para ele transporta uma mais-valia artística e imaginária). Mas impor tais imagens como o real da Natureza é falsificá-la para vincar um ponto de vista: o do activista militante, que vem a seguir (na segunda parte do filme) apontar a 'desgraça' da intervenção humana. Que esta é autêntica não se nega, e no final uma série de dados são apresentados para reforçar a tese, juntamente com um discurso destinado a tocar as cordas sensíveis. Tudo muito bonito. Tudo muito comovente. Tudo a manusear com cuidado, como acontece com todo o filme militante.
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Manuel Cintra Ferreira , Expresso


Título Original: Home
Realização: Yann Arthus-Bertrand
Argumento: Yann Arthus-Bertrand, Isabelle Delannoy, Denis Carot e Yen Le Van
Música: Armand Amar
Direcção de Fotografia: Michel Benjamin e Dominique Gentil
Montagem: Yen Le Van
Locução: Yann Arthus-Bertrand
Origem: França
Ano de Estreia: 2009
Duração: 95’


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