Encerramento do Tributo a Rohmer - Conto de Outono no Pátio de Letras. Sábado, 17h, entrada livre.

Conto de Outono

Este delicioso Conto de Outono, o último a ser filmado da série "Contos das Quatro Estações", é mais uma peça admirável de subtileza de escrita e «savoir faire» narrativo.

Mais do que isso, esta história das casamenteiras que querem arranjar um noivo para a protagonista acrescenta um novo capítulo a uma dimensão sociológica, essencial no trabalho de Rohmer. Que é como quem diz: dispensando todas as facilidades das «teorizações» mais mediáticas, ou apenas mais preguiçosas, Rohmer oferece-nos mais um painel de usos e costumes da França contemporânea. Tudo com a ironia que é apanágio dos mestres.
João Lopes, cinema2000.pt

Depois de Conto de Verão, Conto de Inverno e Conto da Primavera, Eric Rohmer despede-se das quatro estações com este esfuziante baile na aldeia. Como sempre, em Rohmer, uma maquinação amorosa - uma quarentona, Magali, sozinha desde que os filhos partiram, está à espera que os amigos lhe arranjem marido - e um grupo de personagens com a convicção firme de que conduzem os seus destinos. Mas, também como sempre nos filmes de Rohmer, há uma disponibilidade nas personagens para o logro - ou para se deixarem enredar no acaso.

Qual a diferença, então, entre Conto de Outono e o resto da obra do cineasta? É que sendo este menos um filme sobre o amor e mais um filme sobre a análise do amor, a luz dourada da Provença, a sólida arquitectura campestre, as teias de mal-entendidos e de folhagem conferem uma estrutura romanesca a mais uma "divertimento sério" deste insondável cineasta. Mas sendo um filme "outonal" - não por acaso, Rohmer foi buscar duas quarentonas que são veteranas na sua obra, Marie Rivière, Béatrice Romand - acaba por ser a grande comédia para este Verão.
Vasco Câmara, cinema2000.pt


e, em jeito de balanço de toda a série...

A organização da obra de Eriç Rohmer em "séries" (antes destes "contos sazonais", que num desafio ao calendário começaram pela Primavera e visitaram depois o Inverno, o Verão e, agora, o Outono, já tinha havido os "Contos Morais" e as "Comédias e Provérbios"), para lá da inabalável coerência interna de cada uma delas, não deixa de ser em si mesma uma considerável "boutade". Em Rohmer tudo rima com tudo, as correspondências e equivalências nunca se podem limitar ao constante de cada série. Até porque, não raras vezes, há "corpos estranhos" de permeio: pense-se em Os Encontros de Paris, estreado há poucos anos, que é impossível isolar completamente destes "contos de estações". Apaixonado pela pintura, Rohmer não resiste à utilização do titulo de um filme como parte integrante dele, ou seja, a tomá-lo como gerador de sentido, para iluminar ou para obscurecer. A reunião de grupos de filmes debaixo de um titulo genérico é sobretudo uma maneira de provocar a interpretação do espectador.

Dito isto, há sempre qualquer coisa que justifica esse titulo genérico. No caso destes "contos" é tudo uma questão de tom, de luzes e de cores. Cada estação - portanto, cada filme - tem a sua própria "mitologia", e não é tresler muito se dissermos que é ela, muito mais do que a narrativa, que vem relacionar filme e título. Rohmer é, de resto, um cineasta muito mais pictórico do que à primeira vista se imagina: um olhar atento sobre os seus filmes não pode ignorar a importância da composição (cromática, entre outras) na definição da atmosfera e do espírito que preside a cada um deles. E a Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno são, afinal de contas, motivos tão bons como qualquer outros para a pintura de paisagens e sentimentos onde tudo o que conta são as modulações na luz e na cor.
Luís Miguel Oliveira, Público


Título original: Conte d'Automne
Realização: Eric Rohmer
Argumento: Eric Rohmer
Interpretação: Marie Rivière, Béatrice Romand, Alain Libolt, Didier Sandre, Alexia Portal...
Direcção de Fotografia: Diane Baratier
Música: Claude Marti, Gérard Pansanel, Pierre Peyras, Antonello Salis
Montagem: Mary Stephen
Origem: França
Ano de estreia: 1998
Duração: 112’


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