the bridge


Directed by Eric Steel
Produced by Eric Steel


Release date(s) October 27, 2006
Running time 93 min.


Saio de casa embrenhada na azáfama mental já recorrente, depois de um jantar em amena cavaqueira.

O que nos espera na Sala Polivalente da Fundação Calouste Gulbenkian é um documentário sobre suicídios na Golden Gate. Uma ponte que tem tanto de magnânimo e austero como de tétrico, desprovida de margem alguma.
Algures, uma mente inquieta e devastada com o mito, decide acompanhar a par e passo a mais ínfima sombra deste local, não sei se de libertação, se de turismo trágico.
Imagens fugidias que passeiam na ponte, em busca de romantismo, simples acto de celebração da vida, ou corpos que têm vindo a planear racionalmente e maquinalmente a conexão entre a vida e o absurdo, onde só o suicídio tem sentido.
Do lado de quem fica, encontra-se reconforto na dor pela dor, ou tão simplesmente se captam movimentos de desespero e determinação como se de uma névoa se tratasse e ansiasse
pela clarividência que este acto irreal tem. Afinal não passa de um simples salto letal que surpreende a objectiva da máquina fotográfica.
Dos que saltam, apenas conhecemos a morbidez dos dias cansados... para quem o sofrimento(vida) é atroz e para quem a perspectiva do nada os empurra para a inapelável vertigem do abismo...


Sandra Mendo, 30 de Maio de 2007,
Lisboa

3 comentários:

anabela moutinho disse...

1.«Scottie: Well, I wanted to drive you home. Are you all right?
Madeleine: Oh yes, yes I'm fine. No after effects. But as I remember now, the water was cold wasn't it?
Scottie: Yeah, it sure was.
Madeleine: What a terrible thing for me to do. You're so kind. It's a formal thank you note and a great big apology.
Scottie: Well, you've nothing to apologize for.»

(post da ana sobre Vertigo)

e eis que a rede se vai entretecendo neste blog...

2. ok, rf (batendo a continência), nós praqui com frases de engate e outras superficialidades (?) do género e tu a invocar este filme. engulo em seco. faço a mala e regresso a casa.

Rf disse...

é um bom documentário... embora assuma, do ponto de vista formal uma estrutura televisiva, encerra uma humanidade invulgar na forma como se constrói, e desconstrói um tema que é socialmente bastante estigmatizado.
Daí ter feito o post, e aproveitando claro, uma belíssima contribuição de uma amiga minha...
Mas continue-se com as belíssimas pick up lines please... até pq as cervejinhas de qualidade duvidosa, a cavaqueira amigável e os nossos umbigos são, mais do que uma suposta pseudo-intelectualidade, uma manifestação de amizade e de ligação em torno de um objecto comum que é o cinema e o cineclube da faro (neste caso). E isso(desculpem-m a rudeza) é bom como o c....

anabela moutinho disse...

Ai dele que tanto lutou e afinal
está tão só. Tão sózinho. Chora.
Direcção da Companhia Tantos de Tal.
Cinquenta e três anos. Chove, lá fora.

Chora, porquê? Ora, chora.
Uma crise de nervos, coisa passageira.
É, talvez, pela mulher que o adora?
(A ele ou à carteira?)

Seis horas. Foi-se o pessoal.
O homem que venceu está sózinho.
Mas reage:que diabo. Afinal...
E olha para o cofre cheinho.

Sim estou só ainda bem porque não? ele diz
batendo com os punhos na mesa.
Lutei e venci. Sou feliz
E bate com os punhos na mesa.

Seis e meia. Ó neurastenia
o homem que venceu está de borco
e sente uma grande agonia
que afinal é da carne de porco
que comeu no outro dia.

É da carne de porco ele diz
vendo a chuva que cai num saguão.
É da carne de porco. Sou feliz.
E ampara a cabeça com as mãos.

Durante toda a vida explorou o semelhante.
Por causa dele arruinaram-se uns cem.
Agora, tem medo. E o farsante
diz que é feliz diz que está muito bem.

Sim, reage. Que diabo. Terei medo?
E vê as horas no relógio vizinho.
Mas, ai, não é tarde nem cedo.
Ele, que venceu, está sózinho.

Venceu quem? Venceu o quê? Venceu os outros
Os outros, os que o queriam vencer!
Arruinou-os, matou-os aos poucos.
Então não o queriam lá ver?

Sim, reage: Esta noite a Leonor
amanhã de manhã o Sá Lemos
e depois? Ah o novo motor
veremos veremos veremos

Mas pouco do que diz tem sentido.
Tudo hoje lhe é vago uniforme miudinho.
O homem que venceu está vencido.
O dinheiro tapou-lhe o caminho.

Os filhos? esperam que ele morra.
A mulher? espera que ele morra.
O sócio? Pede a Deus que ele morra!
Só a Anita não quer que ele morra!
Ai, maldita carne, murmura
vendo a água que há no saguão.
Tinha demasiada gordura!
E veste o casaco e o gabão.

Passa os olhos pelo lenço. Acabou-se.
Vai sair. Talvez vá jantar?
É inverno. Lá fora, faz frio.

O homem que venceu matou-se
na margem mais escura do rio
ao volante dum belo Packard.

Mário Cesariny de Vasconcelos